quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE A INTERVENÇÃO “TERAPIA DO CHORO”

Por Donda Albuquerque

02 de novembro de 2008.

Terapia do Choro é uma intervenção criada no processo de montagem do espetáculo Não Tenho Palavras - Espetáculo realizado no ano de 2005, pela Associação Artística Saudáveis Subversivos, sob direção e de Flavio Rabelo (http://naotenhopalavras.blogspot.com/ e http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=1985836). Esta intervenção consiste em alterar a ação daqueles palhacinhos – antes conhecidos como “Terapia do Riso” – que sobem pela porta traseira dos ônibus (sem pagar passagem) e vendem canetas, cartões, capas para celulares e outras bugigangas com o intuito de angariar fundos para uma segunda ação, que seria visitar crianças e idosos em hospitais, orfanatos e asilos, levando alegria e diversão. A nossa intervenção tem outro intuito. Primeiro que eu não entrei pela porta de trás, fiz questão de pagar minha passagem; segundo eu estava vendendo um apito e um cortador de unha usados que havia em minha mochila; terceiro meu intuito não era levar alegria e diversão as crianças e idosos e sim levar a verdade.
O texto que usei dizia: “Pessoal, vamos fazer um acordo? Eu dou boa noite a vocês e vocês respondem para eu não passar vergonha. Ok, pessoal? Boa noite! Obrigado! Pessoal, eu sou do grupo Terapia do Choro (todos me olharam imediatamente) e estou aqui para vender esse apito e essa caneta, pessoal. Nós do grupo Terapia do Choro, realizamos um trabalho inédito aqui em Maceió. Pessoal, eu não gosto de mentira, acredito que ninguém gosta. A senhora aí atrás, gosta de mentira? Pois é! Ninguém gosta. Então pessoal, nós visitamos hospitais, orfanatos e asilos com o interesse de levar a verdade àquelas pessoas. E como nós fazemos isso? Nós chegamos nos orfanatos e vamos conversar com aquela criança que já tem seus 10 anos e dizemos a ela que dificilmente ela será adotada, porque ela já atingiu uma faixa etária não muito desejada pelos casais... vamos também aos asilos e dizemos àquele idoso, que ninguém gosta dele, que a família o abandonou lá, que possivelmente ele morrerá sem receber mais nenhuma visita de seus familiares. Quer dizer pessoal, nós levamos a verdade a essas pessoas para que elas não tenham falsas esperanças. Então pessoal como nós não temos apoio do governo e de nenhuma instituição é que estamos vendendo aqui esses itens. Tanto o cortado de unha, quanto o apito sai apenas por cinqüenta centavos, mais barato que qualquer produto da concorrência”.

Fiquei muito espantado com a reação de uma senhora que parecia concordar com tudo que eu dizia. Já seu marido não parecia concordar. As outras pessoas não esboçaram muita reação e me trataram como “mais do mesmo”. Senti falta de uma pessoa vestida como eu para me dar suporte, a Laís estava no ônibus fotografando e filmando, mas me ocorreu que os palhacinhos dos ônibus andam sempre em dupla. Um ponto relevante foi a cobradora do ônibus que permaneceu inabalável a toda intervenção, desde ver um palhaço pagando passagem a todo meu apelo para vender meu apito e meu cortador de unha. Posteriormente Laís me lembra que a soma dos objetos que eu pretendia vender era inferior ao preço da passagem.

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