segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Relato

Na intervenção no interior do ônibus, Tácia nos lembra as pessoas desempregadas que pedem dinheiro e os (as) meninos (as) de rua que vendem Balas. Pedindo um gesto, uma atitude qualquer, que nos lembre que o mundo não é tão ruim, ao vê-la sendo abraçada pelas pessoas, fiquei bastante emocionada ao sentir a sua coragem - como diziam as pessoas - em ser uma sementinha neste mundo tão cheio de violência e contradições. Foi maravilhoso!

Bethânia Albuquerque[1]



[1] Mãe da interventora Tácia Albuquerque

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “MEMÓRIA MEMORIAL”

Por: Donda Albuquerque - Maceió, 11 de Novembro de 2008

Dia da republica e novamente a Cia. do Chapéu estava no Memorial da Republica no bairro de Jaraguá, Maceió – Alagoas. Desta vez minha camisa dizia “Feche as pernas Brasil!”. Diferentemente do ano passado o Memorial estava aberto e iria acontecer um evento no início da noite. As estátuas do Marechal Deodoro e Floriano Peixoto estavam decoradas com coroas de flores parecidas com aquelas encontradas em velórios de celebridades. Não perdemos tempo, Laís e Tácia subiram no elevado onde fica a estátua de Marechal Deodoro e começaram a fazer suas poses enquanto Magnun e eu tirávamos as fotos, depois subimos também e entregamos as câmeras a um amigo nosso que estava nos acompanhando. Não demorou muito até o organizador de o evento nos mandar descer dali e chamar um segurança para nos informar que não podíamos subir naquele local, a Laís ainda tentou argumentar que não estávamos fazendo nada demais e que não estávamos depredando nada ali. Mas não adiantou. Então ficamos tirando nossas fotos e fazendo nossos vídeos por ali por baixo mesmo, tendo como fundo as estátuas, as bandeiras dos Estados e a poluída praia da Avenida. O tapete vermelho colocado na rampa de acesso foi um brinquedo ótimo, tiramos muitas fotos e fizemos os vídeos nele.








RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “ALMOÇO COLETIVO”

Por: Donda Albuquerque - Maceió, 10 de Novembro de 2008

“O cidadão anônimo. Ser individual. Ser coletivo.”


A intervenção estava prevista para ser iniciada ao meio dia, eu deveria encontrar com outros interventores no ponto de ônibus da Praça Visconde de Sinimbu, meu principal contato era o Van. Cheguei atrasado e fui ao espaço cultural para ver se o Van e os outros estavam lá, mas não os encontrei. Fui questionado pelo Denis, que queria saber o que eu fazia por lá, e eu expliquei a situação e ele me disse que o Van não havia aparecido lá o dia inteiro. Mas uma vez me vi só para realizar a intervenção, foi quando o Denis se ofereceu para fazer o registro da minha ação, almoçar em um ônibus coletivo, intervenção realizada por mim ano passado (2007), onde outrora já havia realizado só, posto que o outro interventor não compareceu.

Então eu e Denis entramos no ônibus, que fazia a linha José Tenório Iguatemi. Entrei antes do Denis, passei pela catraca, sentei na cadeira do corredor, abri minha bolsa e tirei de lá uma marmita. Comecei a almoçar dentro do ônibus, as pessoas não pareciam se incomodar com esta ação. O Denis não era muito discreto a me filmar e a moça que estava sentada ao meu lado começou a questioná-lo perguntando se ele estava a fotografando, ele não a respondia, resolvi então descer do ônibus almoçando. Levantei-me, fui até a porta e lá me encostei até o ônibus chegar à parada, nesse meio tempo continuei almoçando e as pessoas só começaram a esboçar uma reação quando me viram descer do ônibus comendo.

A ação de comer em uma marmita e andar ao mesmo tempo por uma avenida movimentada (Av. Comendador leão), era sem dúvida mais impactante do que comer sentado confortavelmente em um ônibus, até mesmo porque eu estava só, talvez essa mesma ação sendo realizada, pelo menos por mais uns cinco interventores, gerasse nos passageiros do ônibus um questionamento quanto aquele almoço coletivo, e talvez nos levasse a uma discussão acerca do que é espaço público e espaço privado, mas não foi o que houve. Andando pela rua percebi que as pessoas que passavam em seus carros e outras que passavam em ônibus, esticavam-se para ver aquele individuo que não parava nem para comer.


RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “PARADOS”

Por: Donda Albuquerque - Maceió, 09 de Novembro de 2008


“O cidadão anônimo. Ser individual. Ser coletivo.”


Cheguei ao Shopping Iguatemi, local escolhido para a intervenção, às 17 horas e 30 minutos. Comecei a andar pelos corredores do shopping para observar o local e escolher um espaço para eu realizar minha intervenção, eu escolhi ficar no primeiro piso em frente uma casa de chá e lanches. Escolhido o local, fui à praça de alimentação para me encontrar com as outras pessoas que viriam também realizar a intervenção, já que esta estava contando com muita gente e foi tida como uma das intervenções que agregaria mais interatores, tanto membros da Cia. do Chapéu, quanto colaboradores de outros grupos. A intervenção estava marcada para as 18 horas, esperei até as 18horas e 20 minutos, ninguém apareceu e então eu resolvi realizar a intervenção sozinho, mesmo sabendo que quando Thiago e eu a realizamos a mais de dois anos e percebemos que seria interessante realizá-la com mais pessoas. E foi o que aconteceu no ano passado (2007), quando estamos em sete interatores. Pois bem, este ano era só eu.

Primeiro mudei o lugar que havia escolhido, resolvi ficar em frente à C&A no primeiro piso. Fiquei parado ali por um pouco mais de uma hora e percebi que ninguém notou que eu estava parado ali, o que me levou a pensar que ao invés de somente realizar essa intervenção com vários interventores em pontos distintos do shopping, poderíamos ficar todos juntos e parados no mesmo ponto. Fiquei curioso em ver as reações das pessoas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “ARARA DANÇANTE”



Por: Donda Albuquerque - Maceió, 07 de Novembro de 2008


Repensando os espaços. Tive a oportunidade de chegar um pouco antes ao especo determinado para a intervenção de hoje, “Arara Dançante”, o local seria o canteiro da Avenida Fernandes Lima, próximo ao monumento em homenagem ao guerreiro alagoano. Neste espaço não teríamos como transportar a arara até lá, então a idéia era amarrar um varal nas árvores, mas quando cheguei lá percebi que não havia muitas árvores e as que existiam eram muito próximas, então liguei para Fabrício, que iria nos apoiar nesta intervenção e também fotografar e lhe pedi que avisasse a Tácia, que iria fazer a intervenção junto comigo, que iríamos fazer no centro mesmo.

Chegamos todos praticamente juntos ao Edifício Brêda, onde fica nossa sede, e começamos a separar nosso material para a intervenção. Separamos a arara, uma mala e aproximadamente umas 25 peças de roupa. E seguimos para o novo espaço determinado. A ação que iríamos realizar era montar a arara, tirar as roupas da mala e pendurá-las na arara, depois ligarmos nossos mp3, colocar os fones nos ouvidos, começar a dançar e trocar nossas roupas com as da arara, essa troca de roupa deveria ser constante.
Tácia me avisa que não estava com o mp3 dela, o que me irritou bastante, porque achei que isso era uma falta de compromisso e organização já que a intervenção estava marcada há uma semana. Mas quando começamos a realizar nossas ações, na hora em que coloco os fones no ouvido vejo Tácia imitando minha ação, achei muito engraçado e ao mesmo tempo funcional, até mesmo pela postura dela durante toda a intervenção – ela não parou de cantar. Começamos a trocar de roupa e a dançar, muito felizes por sinal, por causa dos fones e o som muito alto eu não pude ouvir o que as pessoas diziam, mas percebi que olhavam bastante e comentavam muito. Duas senhoras de idade avançada pararam bem do meu lado, uma muito sorridente e a outra com uma cara mais fechada, fui para junto delas e comecei a dançar convidando-as para juntarem-se a nós, tive a impressão que a senhora mais sorridente ia embarcar na intervenção junto com a gente, mas a outra senhora começou a puxá-la pelo braço e logo foram embora, uma pena. Logo depois disso a arara caiu em cima de mim, umas pessoas gritaram, eu corri e segurei uma parte da estrutura, a Tácia segurou a parte de cima e começou a dança com ela e houve o homem que trabalhava numa obra da prefeitura que estava próximo da gente assistindo tudo que me ajudou a erguer a estrutura e montá-la novamente. Muito bacana ele. Das poucas coisas que ouvi, estão as seguintes frases: “que palhaçada”, “são palhaços”, “eles estão criticando alguma coisa”, “é arte deles”... Para encerrarmos a intervenção Tácia e eu vestimos todas as peças de roupa, umas por cima das outras, eu desmontei a arara e a Tácia fechou a mala. Seguimos em direção ao Edifício Brêda cantando e dançando.

Fiquei com muita vontade de repetir esta intervenção, mas com mais interatores e também colocar uma placa pendurada na arara convidando as pessoas a juntar-se a nós, ou “cuidado artistas trabalhando”, sei lá.

*Fotos de Fabrício Barros

RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “AFOGAMENTO”


Por: Donda Albuquerque - Maceió, 05 de Novembro de 2008
Lendo o relatório do Thiago sobre a intervenção “Afogamento”, realizada no dia 01 de novembro, onde ele questiona o espaço quanto componente fundamental para intervenção, o espaço. Este questionamento causou-me uma reflexão nas intervenções que serão realizadas no decorrer deste mês. Já estava marcada a repetição do “Afogamento”, que seria no dia 05 de novembro às 21 horas no ponto de ônibus do Shopping Iguatemi – logo fiquei pensando que esse horário, nesse local a intervenção se tornaria muito confusa por dois motivos: primeiro que este ponto de ônibus é muito estreito e sempre muito lotado de gente; segundo que é muito mal iluminado, talvez não tivéssemos tanta visibilidade.
Mantivemos o horário e a data da intervenção, mas sugeri um outro local, o ponto de ônibus, que fica em frente ao SESC – Poço, a Laís concordou, mas tínhamos um outro problema, não tinha ninguém disponível para ficar de apoio e registrar a intervenção. Então me ocorreu que a Elizandra Lucca mora ali perto e tinha câmera para fazer o registro, convidei-a e ela aceitou ainda nos aproveitamos mais dela e pedimos um balde e água da casa dela, já que nem Laís e nem eu tínhamos trazido o balde.
Pois bem, começamos a intervenção do mesmo modo da outra, nos alongando. Depois de um tempo comecei a dar voltas em torno do balde e sempre fazia pausas do lado da Laís, que permanecia imóvel. No momento em que ela começou a se mover, parei do lado dela e ela encostou a cabeça em mim, pegue-la pela cintura, coloquei-a de ponta cabeça e desci sua cabeça no balde com água. A relação da primeira intervenção para segunda mudava radicalmente ali, essa minha ação direta fez com que a Laís assumisse uma postura única de oprimida e eu opressor. Foram mais quatro afogamentos dela depois do primeiro. Ela me afogou apenas uma vez e com muita delicadeza e sutileza.
Percebi nesta segunda vez, que a intervenção ganhou muito com o novo espaço. As pessoas interagiam diretamente conosco. Umas das coisas que eu ouvi e que me foi impactante foi uma mulher que estava revoltada comigo por estar maltratando a Laís. Interessante que La não a conhecia, mas isso não impediu de sentir-se mal com o que via. Houve também um rapaz, que respondendo a pergunta de uma moça acerca do que era aquilo que eles viam, disse “é Alice no país das maravilhas”, na hora eu fiquei em dúvida se ele já havia nos visto com este espetáculo no teatro, ou era apenas uma coincidência.




*Fotos de Elizandra Lucca

Relatórios de intervenções por Tácia Albuquerque


Tire sua sorte
03.11 - UFAL( Tácia)
Minha intenção era realizar um percurso do momento em que eu acordasse até dormir entregando sortes. Porém, minhas boas intenções foram por água abaixo. Problemas Técnicos: Tentei escrever as sortes à mão, mas daria muito trabalho e gastaria tempo...tão no ônibus, olhava as pessoas e ia escrevendo as sortes... no escritório digitei, imprimi e xeroquei... Fui de novo no ônibus cortando e dobrando sortes...

Quando chego na UFAL, atrasada... decido não atrapalhar a aula e destribuir sortes somente no intervalo da mesma.... Durante uma saída pertubada, entre pessoas cansadas e morrendo de fome... distribui sortes... não pedi para ler... algumas pessoas me diziam... outras estranhavam... riam... muito tumulto pressa e sortes...

Não distribui mais sortes no resto do dia.

Tire sua sorte
05.11 - ônibus ( Tácia)
Penso, hoje será a chance de fazer esta intervenção do jeito que quero!!! Fico a manhã toda em casa e quando saio a rua... só duas, três pessoas... estranham... mas ao ouvirem a palavra mágica (É de graça!) pegavam suas sortes e seguiam. Fico em dúvida... entrego sortes a todos que queiram ou escolho pessoas? Decido, vou entregar a quem eu escolher... Subo no ônibus, entrego ao cobrador, estranha, ri, pega... muitas crianças e pegam e depois da catacra um homem aceita e os demais se recusam... nem a palavra mágica funcionou... É... nem todo mundo que sorte... Fustração... Dia de correria... Nada mais de sortes hoje!!!
CONCLUSÃO 1 - Tenho que fazer esta intervenção, num dia em que possa realmente interagir, sem preocupações com tempo e etc... !
CONCLUSÃO 2 - Devo repensar a abordagem... Ano passado fiz de forma neutra, de forma casual e convidativa... Estas duas vezes fiz casualmente e houve pouca aceitação.

CONCLUSÃO 3 - 
Só vou tirar minha sorte, no dia que realizar esta intervenção como quero: um percurso.
Sentidos não Visuais
06.11 - Praça Deodoro (Elisângela Ap- Tácia)

Quando eu cheguei, Elisângela já realizava sua intervenção: Toda de preto, vendada, sentada na praça, percebendo o seu meio. Mudamente ela seguia em sua descoberta minunciosa tocando o chão, a si. Aos outros despertava curiosidade... A olhavam com estranheza até que eu também comecei a ser olhada assim, quando fotografava ela, perto ou longe... interagia também nesta percepção/exploração.
Em determinado momento ela se levanta e começa a desbravar o caminho... pessoas se entreolhavam, saiam do percurso, ficavam estáticas, riam, preocupavam-se...

Pouco tempo depois, tirou a faixa.

Achei que podia ter ousado mais... percorrido outros percursos e experimentado outras sensações (sonoras, oufativas, degustativas, táteis)... Faltou uma finalização em sua descoberta... mas parabenizo, pois vejo muita disposição em intervir...

Radio Fone
06.11 - ônibus ( Elisângela, Natalhinha, Jocasta e Tácia)

Antes de começar, discutimos várias, várias mesmo, possibilidades de como realizar a intervenção, até chegarmos na seguinte resolução:Subiríamos todas no ônibus, eu e Elisângela cantando com o mesmo MP4, Depois Natalhinha e Jocasta cantariam.... uma dispusta... cantada Eu desceria do ônibus e elas seguiriam, cantando.

Já subi cantando, estranhesa... me olhavam , entortavam a cara e uma moça atrás de mim não parava de reclamar das "pessoas" que cantavam no ônibus e obrigavam ela a escutar e etc... e tal... Cantei e surtei... acho que demais até... Pouco tempo depois elas começaram a cantar, tive que descer...

Esperando a porta abrir pude perceber: risos, uma mãe tapando a boca da filha menina que queria cantar, outra mulher fazendo vocalizes... outros reclamando...

Ao fundo, cantam: Abandonada por você!! Apaixonada por você!!!

Desço e escuto das mulheres que descem atrás de mim: Que dor de corno! Eu... quem estar passando vergonha são elas ...

Sigo elas, como quem não quer nada... mas nada mais escuto... sigo meu caminho...


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE A INTERVENÇÃO “TERAPIA DO CHORO”

Por Donda Albuquerque

02 de novembro de 2008.

Terapia do Choro é uma intervenção criada no processo de montagem do espetáculo Não Tenho Palavras - Espetáculo realizado no ano de 2005, pela Associação Artística Saudáveis Subversivos, sob direção e de Flavio Rabelo (http://naotenhopalavras.blogspot.com/ e http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=1985836). Esta intervenção consiste em alterar a ação daqueles palhacinhos – antes conhecidos como “Terapia do Riso” – que sobem pela porta traseira dos ônibus (sem pagar passagem) e vendem canetas, cartões, capas para celulares e outras bugigangas com o intuito de angariar fundos para uma segunda ação, que seria visitar crianças e idosos em hospitais, orfanatos e asilos, levando alegria e diversão. A nossa intervenção tem outro intuito. Primeiro que eu não entrei pela porta de trás, fiz questão de pagar minha passagem; segundo eu estava vendendo um apito e um cortador de unha usados que havia em minha mochila; terceiro meu intuito não era levar alegria e diversão as crianças e idosos e sim levar a verdade.
O texto que usei dizia: “Pessoal, vamos fazer um acordo? Eu dou boa noite a vocês e vocês respondem para eu não passar vergonha. Ok, pessoal? Boa noite! Obrigado! Pessoal, eu sou do grupo Terapia do Choro (todos me olharam imediatamente) e estou aqui para vender esse apito e essa caneta, pessoal. Nós do grupo Terapia do Choro, realizamos um trabalho inédito aqui em Maceió. Pessoal, eu não gosto de mentira, acredito que ninguém gosta. A senhora aí atrás, gosta de mentira? Pois é! Ninguém gosta. Então pessoal, nós visitamos hospitais, orfanatos e asilos com o interesse de levar a verdade àquelas pessoas. E como nós fazemos isso? Nós chegamos nos orfanatos e vamos conversar com aquela criança que já tem seus 10 anos e dizemos a ela que dificilmente ela será adotada, porque ela já atingiu uma faixa etária não muito desejada pelos casais... vamos também aos asilos e dizemos àquele idoso, que ninguém gosta dele, que a família o abandonou lá, que possivelmente ele morrerá sem receber mais nenhuma visita de seus familiares. Quer dizer pessoal, nós levamos a verdade a essas pessoas para que elas não tenham falsas esperanças. Então pessoal como nós não temos apoio do governo e de nenhuma instituição é que estamos vendendo aqui esses itens. Tanto o cortado de unha, quanto o apito sai apenas por cinqüenta centavos, mais barato que qualquer produto da concorrência”.

Fiquei muito espantado com a reação de uma senhora que parecia concordar com tudo que eu dizia. Já seu marido não parecia concordar. As outras pessoas não esboçaram muita reação e me trataram como “mais do mesmo”. Senti falta de uma pessoa vestida como eu para me dar suporte, a Laís estava no ônibus fotografando e filmando, mas me ocorreu que os palhacinhos dos ônibus andam sempre em dupla. Um ponto relevante foi a cobradora do ônibus que permaneceu inabalável a toda intervenção, desde ver um palhaço pagando passagem a todo meu apelo para vender meu apito e meu cortador de unha. Posteriormente Laís me lembra que a soma dos objetos que eu pretendia vender era inferior ao preço da passagem.

RELATÓRIO SOBRE A INTERVENÇÃO “AFOGAMENTO”





Por Laís Lira


01.11.2008

Chegamos ao local eu, Donda e minha mãe... hehehe... Thiago nos esperava.
Água – a falta dela – balde cheio – enfim...
Alongamento... Olhar... Olhar que se encontra e permanece “vivo” durante a intervenção, assim sendo, o abraço também foi algo intenso e constante. Improvisamos contato e relação com o espaço... Eu me fechei num “mundinho”, e não escutei, nem vi nada além do que queria... Estava muito centrada em mim, foi uma “viagem”! Uma viagem que fluiu...
Não me recordo dos corpos terem se chocado, pelo contrário, senti os corpos se encaixando. A relação era delicada, confusa. Não se distinguia opressor e oprimido.
Afogar-se, afogar... Foram poucos afogamentos. Mas meu corpo sentiu uma eternidade... Principalmente quando fui afogada pela segunda e ultima vez, pelo Donda. Meu corpo se tencionou completamente saltando no pescoço dele... Me comprimi, sentia a dor que a presença da água provocava dentro de meu corpo.  Senti uma limpeza... Dos “buracos”... “buracos”... Mas é lógico, foi só por um instante... Esses “buracos”... Sei que serão sempre “buracos”... Em minha vida!
Enfim, Donda joga o resto da água sobre nossos corpos... Permanecemos parados por instantes... E nos retiramos...
Duas meninas, curiosas, tiraram fotos e nos questionaram sobre... Quem? O que? Somente enquanto caminhava em direção ao carro, observei a movimentação, os olhares... Senti a vontade de ter nos vistos... Um olhar externo sobre o que eu mesma sentia e expressava naquele momento, durante a intervenção!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE A INTERVENÇÃO “AFOGAMENTO”


Por Thiago Sampaio
 Maceió, 03 de novembro de 2008

A intervenção ocorreu de forma tranqüila, sem nenhum empecilho. Jonatha e Laís chegaram na hora marcada e iniciaram a ação assim que conseguimos a água para encher o balde. Após um breve alongamento, os dois começaram a improvisar ao redor do balde, exercitando um pouco de contato improvisação e outros movimentos isolados. Surgiram imagens muito bonitas que eu tentei registrar apesar da luz do local não ajudar muito. Também filmei para garantir o desenho de alguns movimentos que uma fotografia nem sempre registra.
Próximo ao local da intervenção havia um bar com um número considerável de pessoas bebendo e ouvindo música num volume alto, mas ainda assim, a ação chamou a atenção de algumas dessas pessoas, que se mantiveram à distância, mas não deixaram de acompanhar e até de gritar coisas que não compreendi.
Também contamos com a presença de algumas crianças e de algumas senhoras, residentes no bairro que resolveram se aproximar e assistir mais de perto. As crianças ficaram muito curiosas e interessadas e ao me perguntarem do que se tratava eu respondi: “É o que você quiser!”. Nem sei por que disse isso, mas acreditei ser a melhor resposta para algo que provavelmente uma tentativa de responder cartesianamente só reduziria o valor do que estava acontecendo ali.
A intervenção também chamou a atenção de duas garotas que se aproximaram e passaram a fotografar a ação. Perguntaram, depois de encerrarmos, quem éramos, se éramos de Maceió mesmo, se tínhamos site ou algo do tipo, demonstrando bastante interesse.
Porém a participação mais especial da noite foi a da mãe da Laís que assistiu a tudo atentamente e depois fez algumas colocações bem pertinentes, quanto à qualidade de movimento da dupla, do envolvimento dos passantes e até sobre o conceito de intervenção e a relação com o espaço e com quem assiste.
Quando eu cheguei na praça, uns 10min antes do Jonatha e da Laís, enquanto os esperava, fiquei observando o espaço, as pessoas que estavam próximas, o trânsito, a iluminação e os demais elementos que compunham aquela praça e seu redor. Me fiz algumas perguntas: porque aquela intervenção naquela praça? Por que aquela praça? O que estamos discutindo naquele espaço? O que estamos discutindo com aquela ação?

Então me veio esse estalo de que tão importante quanto a ação que será realizada, talvez mais (?), é o espaço escolhido. Gostaria de compartilhar essa questão, propondo uma ação simples para nós interventores, especialmente durante nossa jornada: observar nossa cidade, todos os cantos e recantos por onde passamos e até por onde evitamos passar, é bem provável que esses espaços já saibam que intervenções “precisam” sofrer! A minha proposta é que a gente também caminhe nesse sentido, escolha as intervenções depois de decidir o espaço. E para isso é preciso ficar atento, ouvir as necessidades desses espaços.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

RELATÓRIO SOBRE INTERVENÇÃO “AFOGAMENTO”



Por: Donda Albuquerque - Maceió, 01 de Novembro de 2008

“O cidadão anônimo. Ser individual. Ser coletivo.”


Foi com este pensamento com que fui fazer a intervenção “Afogamento”. Na intervenção pude contar com a Laís , que realizou a intervenção junto comigo, e também com o Thiago , que nos deu o apoio e registrou a intervenção. Descrevendo tecnicamente a intervenção - os interatores deveriam realizar um jogo corporal com base no “contato de improvisação” e, ao mesmo tempo, estabelecer uma relação com o elemento água (buscando um afogamento). Começamos por um alongamento, após este permanecemos parados durante um tempo, cada um de um lado de um balde com água. Comecei por procurar pelo olhar da Laís, que já estava olhando para mim. Começamos a nos aproximar um do outro e logo começamos a nos relacionar fisicamente. Aos poucos esse jogo se tornava mais claro para mim. Percebi que estávamos realizando uma relação de opressor x oprimido, mas não com papéis definidos de que quem oprimia e de quem era oprimido, mas esses dois estados se revezavam entre Laís e eu. Comecei a procurar por situações na minha vida que eu passei por tais estados. O afogamento propriamente dito só aconteceu no final da intervenção, mas para mim soou mais como uma purificação, a água limpava o ser construído pela relação de poder. Um ponto marcante foi o abraço, recorrente durante toda a intervenção.

Pude constatar que realmente somos anônimos sociais, que se não fosse essa ação extra-cotidiana, nós não seriamos percebidos. Está ação não passa despercebida pelo olhar do público, que reage a ela como uma apresentação, mesmo sem saber ao certo o “o que?” e o “por quê?” da ação e mais ainda, eles vêem quem a realiza, mas não sabem quem são.

Esta intervenção tem um caráter espetacular, diferente de intervenções com ação mais sutis, onde o espectador torna-se elemento ativo sem perceber a intervenção e passa a participar da ação.

JORNADA DE INTERVENÇÕES

APRESENTAÇÃO
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O Mês das Intervenções é uma iniciativa da Cia. do Chapéu que consiste na realização de intervenções cênicas e urbanas, durante os 30 dias do mês de novembro, na cidade de Maceió, cujas ruas, praças, praia, paradas de ônibus e centros comerciais serão tomados por obras artísticas diferenciadas da produção pensada para espaços específicos como teatros ou museus, por possuírem um caráter duvidoso do que se denomina Arte e porque não se pretendem ser reconhecidas por sua forma, mas exatamente pelo que discutem. São ações extra cotidianas, objetos produzidos para determinados espaços da cidade, danças, poesias, músicas, postas no espaço público urbano, resignificando-o e instigando o envolvimento do público enquanto elemento constituinte da obra.
A primeira edição desse projeto ocorreu em 2007 e, para 2008, a Cia. do Chapéu decidiu envolver outros artistas e interessados na linguagem a participarem como colaboradores/realizadores das intervenções, ampliando a rede de discussão sobre o papel da Arte Contemporânea e abrindo um espaço para o intercâmbio artístico e para uma produção coletiva impactante.



OBJETIVOS
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Ocupar os mais diversos pontos de Maceió (ruas, praças, paradas de ônibus, centros comerciais, ônibus coletivos...), no mês de novembro, com intervenções cênicas e urbanas.

Discutir e refletir sobre o papel da Arte na sociedade contemporânea e sobre a relação Arte x Urbanidade

Compartilhar com artistas de outros grupos e linguagens os processos de idealização e realização das intervenções.

Produzir um diário de bordo descritivo sobre as intervenções como forma de registro da ação.

Firmar parcerias com outros artistas e instituições que apóiem a produção artística local.

Utilizar a linguagem das intervenções para questionar o cidadão anônimo na sua individualidade e no coletivo.



JUSTIFICATIVA
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O que motiva a realização desse projeto é a possibilidade de discutirmos de uma maneira pouco experenciada pelos artistas atuantes em Alagoas, o papel da arte contemporânea, seu espaço de ocupação e sua relação com o público. Para tanto utilizamos da linguagem das intervenções cênicas e urbanas por elas estabelecerem uma relação direta com a cidade, com o espaço que ocupamos diariamente e que, justamente por isso, se torna tão comum, tão banal, que se perde entre nossos sentidos, entre nossa capacidade de estranhar, de resignificar o que já está posto.
O Mês das Intervenções é uma ação iniciada em 2007, a princípio com o propósito de uma investigação particular da Cia. do Chapéu, mas que hoje ganha um perfil outro, o de mobilizar a classe artística alagoana num movimento que tome a cidade com obras de arte diversas, chegando mais próximo do público, exigindo dele uma posição menos contemplativa e mais participativa.
Uma vez que em Alagoas o objeto artístico é ainda pensado para espaços específicos, como teatro, salas de cinema e museus, a Cia. do Chapéu se propõe repensar o espaço da arte, ocupando, muitas vezes de forma fortuita e quase imperceptível, ruas, paradas de ônibus, praças, praias, ônibus coletivos, com ações extra-cotidianas, objetos artísticos, poesia, música, dança, que provoquem um estranhamento em quem esteja presente ou passando e o possibilite também compor essa manifestação, sendo elemento essencial na realização da mesma.
Nos propomos a essa experiência por acreditarmos no potencial criativo dos artistas alagoanos e dos não alagoanos residentes em nosso Estado, por acreditarmos no poder da criação artística coletiva como transformadora de pensamentos e posicionamentos diante da vida e, finalmente, por acreditarmos que a Arte produzida em Alagoas é antes de mais nada uma Arte produzida no mundo.



CRONOGRAMA DE AÇÃO
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1. Convocação dos artistas e interessados para apresentação da proposta e definição dos participantes.
2. Definição das intervenções a serem realizadas com seus respectivos interatores e equipe de apoio.
3. Realização das intervenções.
4. Elaboração e discussão dos relatórios sobre as intervenções.
5. Elaboração do diário de bordo do projeto.
6. Avaliação do projeto.

Por: Thiago Sampaio