A intervenção teve início por volta das 10h30. Pegamos o ônibus José Tenório - Iguatemi, no sentido Poço - Orla. Descendo na Praça Bonfim, antes dele subir para o Farol.
Combinamos de iniciar a relação do corpo com espaço do ônibus gradativamente, aproveitando o balanço da viagem e os solavancos das curvas e paradas.
De repente, já estávamos nos pendurando nas barras de segurança ou indo e vindo no corredor. Foi uma viagem tranquila e os movimentos surgiram de maneira espontânea. De início me concentrei no espaço e nas possibilidades de partituras que poderiam nascer a partir daquele ambiente cheio de barras de segurança, assentos e janelas, abstraindo assim um pouco a presença e olhares das pessoas. Mas sutilmente a atenção se expandiu para os passageiros e a paisagem. Me senti muito à vontade e não percebi nenhuma reação de repulsa por parte de ninguém ali presente, nem mesmo com a Larissa que estava fotografando descaradamente a ação. Inclusive, em determinado momento quando eu estava prestes a me deitar em duas cadeiras livres, com os pés virados para a janela e a cabeça para o corredor, uma senhora, sentada atrás de mim, colocou o pé para eu apoiar a cabeça, argumentando que eu poderia cair e me machucar. Aproveite e acomodei minha cabeça no pé dela bem rapidamente. Agradeci e segui minha dança. Em contrapartida, instantes depois, ouvi o motorista dizer algo do tipo "essa dança já tá boa de acabar, né?!". Mas como ele não insistiu na ideia, nem alterou a voz, continuei como se ele não tivesse se manifestado.
Procurei movimentos a partir do que já se faz num ônibus - sentar, levantar, puxar a corda, dormir, olhar a paisagem, reconhecer o caminho, sempre ampliando, exagerando, expandindo o gesto e munindo-o de um ritmo quase contínuo, usando de repetições, ligando movimentos e buscando resignificar as qualidades do gestual cotidiano de uma viagem de ônibus coletivo urbano.
Também foi possível estabelecer relações com a Laís, a partir do contato visual e da ocupação simultânea e improvisada em determinados espaços do ônibus. Aconteceu por exemplo de ficarmos sentados lado a lado e com o movimento da viagem e as freadas, ora levantávamos ora sentávamos novamente, às vezes ao mesmo tempo, às vezes um em oposição ao outro (ela sentando e eu ficando de pé). Também ocorreu outro momento em que eu estava sentado, executando uma série de repetição, soltando e agarrando a barra da cadeira da frente, o que gerava um som com o choque das minhas mãos nas minhas pernas. A Laís, que estava próxima, porém em pé, passou a também bater na própria perna, ora intercalando com o silêncio das minhas batidas ora acompanhando o som.
Foram momentos ricos para mim, que carreguei comigo a sensação de uma dança composta harmonicamente com aquela viagem. - por Thiago Sampaio (20/11/2011).
Foram momentos ricos para mim, que carreguei comigo a sensação de uma dança composta harmonicamente com aquela viagem. - por Thiago Sampaio (20/11/2011).
"Coletivo Dançante", com Laís Lira e Thiago Sampaio (10h30 - 20/11/2011) |
2 comentários:
Fico encantada com esse tipo de intervenção. Estou contente por conseguir visualizar a através do rico relato de Thiago..
Me alegra como a senhorinha interviu, um cuidado, um interagir, pra mim o ponto máximo da intervenção. A relação se torna estreita e orgânica, a intervenção dá essa margem pro público ser tão protagonista quanto o artista! MCaRolFreired'Anunciação
hehehe.. fiz o comentário pelo gmail de minha prima.. rs
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