terça-feira, 22 de novembro de 2011

Será que não é injusto dizer que ela não dançou?!

"Dançando com Árvores" - Av. Fernandes Lima
 
Eu fui realizar essa intervenção com Donda, Joelle e Larissa cheio de pequenos medos. Não sei explicar. A Av. Fernandes Lima, o trânsito, os policiais que estão sempre por lá, isso foi nutrindo em mim a sensação de estar fazendo algo errado, inapropriado. Tudo isso antes de começar. Porque na hora, abstrai, me dediquei às possibilidades de movimento e de interação com aquela árvore solitária. Ainda um pouco tenso, é verdade, mas inteiro no que estava fazendo.
Uma das primeiras coisas que me ocorreu foi a ideia de um nome falho para a intervenção, "Árvores Dançantes", já prontamente corrigida pela Larissa Lisboa. Ora, não que eu não considere uma dança o balanço dos galhos e das folhas das árvores causado pelo vento; porém como se trata de uma relação que parte de uma pessoa, quem está dançando no fim das contas não é a árvore. Controverso pensamento, há de aparecer alguém para dizer que a árvore dançou também naquele momento, afinal, não fosse ela daquele jeito, os movimentos seriam outros! A relação seria outra! Bom, para todos os efeitos, concordo em chamá-la de "Dançando com Árvores". Me parece hoje mais adequado.
Quanto ao temor em realizá-la, pude expor essa sensação durante a conversação que aconteceu também ontem, mas à noite. Aliás, hoje (22/11/2011, às 19h30), também tem conversação e quem quiser aparecer, basta se dirigir à Rua Mizael Domingues, 72, Centro, em frente à portaria do IFAL (antiga Escola Técnica de Alagoas). O tema de hoje é "Ei, você não pode fazer isso aí! - Transitando entre Público e Privado"
Enfim, estava pensando sobre esses receios que às vezes sinto quando intento uma intervenção. E no fim, depois da dança, me dou conta que o impacto daquela ação naquele determinado espaço e na presença daquelas determinadas pessoas nem de longe constrange, perturba ou agride quem quer que seja. Claro que a intenção não é nenhuma dessas, mas quando me ponho a pensar o espaço onde agirei, os possíveis movimentos a realizar e cogito a diversas possibilidades de interação procurando prever/planejar minha reação diante delas, não penso nunca em alguém que chegará perto para apoiar ou até dançar junto. O ato de dançar com uma árvore num espaço não pensado para esse fim - se é que existe um lugar criado para se dançar com árvores - vem impregnado de estratégias para riscos de possíveis interações.
Quando se intervem concentrado nesses riscos possíveis, a meu ver, a intervenção sofre em qualidade, porque desvia a atenção do interventor/performer para o que não é essencial no trabalho. E quando o essencial no trabalho - como é o caso dessa intervenção - é simplesmente dançar com uma árvore, essa dança se fragmenta, se enfraquece, não se dá de maneira plena.
Saí de lá com a sensação de que ninguém me viu dançar. Não que eu quisesse ser visto por si só, mas percebi que tudo foi tão discreto, sutil e delicado - como não ser delicado com uma árvore? - inclusive porque nem se pretendia ser diferente disso; que a ação, não posso prever, não reverberou nas pessoas que assistiram-na. Também não esperava uma salva de palmas, não é isso, o que quero dizer é que no final das contas, muitas vezes essa ideia de alterar a ordem do cotidiano, subverter regras, resignificar espaços, é justamente isso: muitas vezes apenas uma ideia.
A relação com a árvore foi inesquecível. Me senti acolhido, acariciado por ela - será que não é injusto dizer que ela não dançou? - mas e quem estava passando, como se sentiu? O que pensou? Alguém gritou: "É um sagui?!". A força de uma intervenção dessa natureza frente a quem para e assiste, a quem passa e reduz o passo, a quem ignora, sempre despertará minha curiosidade. - Thiago Sampaio.

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